Giovanna Caleiro
2 min readNov 11, 2020

Quando cê olhou no fundo do meu olho e disse que me amava, o mundo inteiro se encolheu num pontinho minúsculo fora do nosso campo de visão. “Amo você”, cê me falou, e eu não senti medo. Eu não senti culpa. Eu não senti que cê tava colocando todas as suas expectativas dentro de um embrulho bonito, me entregando e dizendo: “é seu, se vira”. Eu não senti que cê tava me chamando pra ver uma coisa que você tinha criado sozinho, com as próprias mãos. Eu não senti que cê tava me pedindo nada, me cobrando nada, me prometendo nada. Eu não senti que você tava me dando um quilo de chumbo, nem um quilo de penas, que nem naquelas piadas de quando a gente era criança. Eu não senti que você tava me entregando nada, nem um presente, nem uma bomba, nem se entregando. Cê falou que me amava como tinha falado que tava tão feliz de me ver quando eu cheguei. Eu também tava feliz de te ver, e quando eu falei que te amava, eu senti que a gente tava falando isso: eu tô feliz porque você chegou aqui e agora. Eu tô feliz porque você chegou, na hora que você chegou, do jeito que você chegou e com todas as coisas que chegaram com você e que só você mesmo poderia ter trazido. A gente fala muito de sorte, eu não acredito em sorte. Eu nem sei se acredito em alguma coisa maior que rege tudo e coloca as coisas no lugar aonde elas deveriam estar. Mas eu acredito que, de vez em quando, só porque sim, a gente esbarra sem querer em alguém e o acidente vira isso que a gente chama de sorte. Que eu chamei de sorte, que você chamou de sorte e que fez tudo se desdobrar até esse momento, aqui e agora, quando cê olhou no fundo do meu olho e disse que me amava.

Giovanna Caleiro

Dedicated to everyone who wonders if I’m writing about them. I am.